HONRA ÀS ÁGUAS


Cachoeira




Honra às águas

Através de um ritual de purificação e renascimento receberemos as bênçãos de Pacha Mama, derramando sobre nos águas de doçura. Honrando o Sagrado Feminino, a fertilidade, nos reconectamos ao nosso ser Original, acolhidos em um grande útero de amor e compaixão.






Mistério fecundo


Deus! Foi Ele quem criou o céu e a terra,
e que fez descer do céu uma água
graças à qual faz brotarem
os frutos para a vossa subsistência.
 (Corão, 14,32; 2, 164).
 


Água, segundo Chevalier, fonte de vida, meio de purificação, centro de regenerescência, massa indiferenciada, infinidade dos possíveis. Contêm todo o virtual, todo o informal, o germe dos germes, todas as promessas de desenvolvimento, mas também todas as ameaças de reabsorção. Mergulhar nas águas, para delas sair sem se dissolver totalmente, salvo por uma morte simbólica, é retornar às origens, carregar-se de novo num imenso reservatório de energia e nele beber uma força nova: fase passageira de regressão e desintegração, condicionando uma fase progressiva de reintegração e regenerescência.

Na Ásia, a água é a forma substancial da manifestação, a origem da vida e o elemento da regeneração corporal e espiritual, o símbolo da fertilidade, da pureza, da sabedoria, da graça e da virtude. Fluida, sua tendência é a dissolução; mas, homogênea também, ela é igualmente o símbolo da coesão, da coagulação.

A água é a matéria-prima, a Prakriti: Tudo era água dizem os textos híndus; as vastas águas não tinham margens, diz um texto taoísta. Bramanda, o Ovo do mundo, é chocado à superfície das Águas. Da mesma forma, o Sopro ou Espírito de Deus, no Gênesis, pairava sobre as águas. A água é Wu-ki, dizem os chineses, o Sem-Crista, o caos, a indistinção primeira. As Águas, representam a totalidade das  possibilidades de manifestação.

Origem e veículo de toda vida: a seiva é água, e em certas alegorias tântricas, a água representa prana, o sopro vital. No plano corporal, e por ser também um Dom do céu, ela é um símbolo universal de fertilidade e fecundidade. A água do céu faz o arrozal, dizem os montanheses do sul do Vietnã, sensíveis, cumpre dizê-lo, à função regeneradora da água, que consideram medicamento e poção de imortalidade.

A água, oposta ao fogo, é yin. Corresponde ao norte, ao frio, ao solstício do inverno, aos rins, à cor negra, ao trigrama K'an, que é o abissal. Mas, de outro modo, a água está ligada ao raio, que é fogo. Ora, se a redução à Água dos alquimistas chineses pode ser muito bem considerada como uma volta ao começo, ao estado embrionário, diz-se também que essa água é fogo, e que as abluções herméticas devem ser entendidas como purificações pelo fogo. Na alquimia interna dos chineses, o banho e a lavagem poderiam bem ser operações de natureza ígnea. O mercúrio alquímico, que é água, é às vezes qualificado como água ígnea.

A água viva, a água da vida se apresenta como um símbolo cosmogônico. E porque ela cura, purifica e rejuvenesce, conduz ao eterno. Segundo Gregório de Nissa, os poços conservam uma água estagnada. Mas o poço do Esposo é um poço de águas vivas. Ele tem a profundeza da cisterna e a mobilidade do rio
Junto das fontes e dos poços operam-se os encontros essenciais. Como lugares sagrados, os pontos de água têm papel incomparável. Na Bíblia as fontes que se oferecem aos nômades são outros tantos lugares de alegria e encantamento. Perto deles, nasce o amor e os casamentos principiam. A marcha dos hebreus e a caminhada de todo homem na sua peregrinação terrena estão intimamente ligadas ao contato exterior ou interior com a água. Esta se torna, então, um centro de paz e de luz, oásis.

No coração do sábio reside a água; ele é semelhante a um poço e a uma fonte (Provérbios, 20, 5; Eclesiástico, 21, 13), e suas palavras têm a potência da torrente (Provérbios, 18, 4). Quanto ao homem privado de sabedoria, seu coração é comparável a um vaso rachado que deixa escapar o conhecimento (Eclesiástico, 21, 14).

Símbolo, antes de tudo, de vida no antigo Testamento, a água se tornou, no Novo, símbolo do Espirito (Apocalipse, 21).

A água se torna o símbolo da vida espiritual e do Espírito, oferecidos por Deus e muitas vezes recusados pelos homens.

Jesus retoma esse simbolismo no seu diálogo com a samaritana: Aquele que beber da água que eu lhe darei não terá mais sede... A água que eu lhe darei se tornará nele fonte de água a jorrar em vida eterna (João,4, especialmente versículo 4).

Se as águas precedem a criação, é evidente que elas continuam presentes para a recriação. Ao homem novo corresponde a aparição de um outro mundo.

Símbolo da dualidade do alto e do baixo: água de chuva – água do mar. A primeira é pura; a segunda, salgada. Símbolo de vida: pura, ela é criadora e purificadora (Ezequiel, 36, 25); amarga, ela produz e maldição (Números, 5, 18). Os rios podem ser correntes benéficas ou dar abrigo a monstros. As águas agitadas significam o mal, a desordem.

Em certos casos, como afirmou Chevalier no começo deste verbete, a água pode fazer obra de morte. As grandes águas anunciam, na Bíblia, as provações. O desencadeamento das águas é o símbolo das grandes calamidades.

As águas amargas do oceano designam a amargura do coração. O homem – dirá Richard de Saint-Victor – deve passar pelas águas amargas quando toma consciência da própria miséria, essa santa amargura se transmudará em júbilo (De statu interioris hominis, 1, 10, P.L., 196, 124).








Nenhum comentário:

Postar um comentário